16 de novembro de 2009

Normalmente eu escrevo sobre as canções dos outros. Agora, quero que quem ouvir o Bem-Vindo (minha banda com a Karina Buzzi), poste nos comentários a sua própria resenha. A banda ainda é recém-nascida e a qualidade do áudio não é das melhores. Mas há sinceridade nas canções, e é isso que importa.


Download:

26 de outubro de 2009


Há paisagens ensolaradas e coloridas que permitem dois climas distintos. O primeiro é cheio de energia, de movimentos rápidos, onde cabe uma dança, gargalhadas e gritos. O segundo é cheio de calmaria, de câmera lenta, onde cabe um passo leve e perdido, leves sorrisos ou uma cara triste e sussurros. Os dois climas residem no álbum Yeah So, do Slow Club. Com um dueto maravilhoso entre Charles Watson e Rebecca Taylor as canções são bem pessoais, contando histórias ou fazendo reflexões. Com o violão mais calmo ou um piano grave o clima lento toma conta e sussurra frases sinceras como "There's no good way to say I'm leaving you". Quando o violão ou a guitarra aceleram e a canção se preenche pelo clima de energia e movimentos rápidos, a diversão começa, como em Because We're Dead, Giving Up On Love e It Doesn't Have To Be Beautiful. São 12 canções (mais uma faixa escondida) cheias de diversão e beleza, às vezes mais uma coisa do que outra, às vezes as duas juntas.


25 de outubro de 2009


The Whispertown 2000 agrada, bastante, mas não é um caso de amor. O álbum Swim é muito bom, com um folk-pop que explora diversos climas, um vocal feminino alegre e letras espertinhas e bem-humoradas. É daqueles discos que te proporcionam bons momentos. Pra mim, serviu para ficar balançando o corpo, com os pés descalços no carpet da sala, enquanto olhava para a janela. Mas quando eu quiser algo mais específico, profundo ou realmente animador, não vou recorrer ao Whispertown 2000. Me desculpe, mas se a gente se deixar levar por qualquer melodia bem produzida, divertida ou leve e um atraente vocal feminino, vai ficar difícil. Uma das melhores canções do álbum, Old Times, tem uma frase que talvez diga um pouco sobre a banda, nessa de não ser nem ruim nem ótimo: "I'm not trying to move fast but I can't stay slow".

24 de outubro de 2009


Minha gata dormiu boa parte da tarde ouvindo Thao With The Get Down Stay Down. A imagem calma de um gato dormindo não se encaixa com o som do álbum Know Better Learn Faster. Mas a discussão não é porque minha amiga felina conseguiu dormir, o foco está no disco. Com brincadeiras vocais, cheias de refrões grudentos com oh-oh's e ah-ah's, riffs de guitarra animadinhos e diversos outros barulhos, Thao Nguyen não faz um disco criativo, faz apenas algo divertido e bem encaixado. Não corre o risco de experimentar mais, só que assim, também não corre o risco de ser chato. O resultado é um folk-rock embelezado por uma voz feminina e produzido por pessoas que pareceram se divertir ao gravar as canções. The Give, Oh. No. e But What of Strangers fogem um pouco do perfil do disco e são músicas-para-gato-dormir. O álbum termina dançando com a canção Easy, em que Thao avisa logo no início: "Sad people dance too".

23 de outubro de 2009


Um jazz leve e sorridente. Com a voz quase infantil de Blossom Dearie, as canções-conversa do segundo álbum da carreira trazem um intimismo que facilita a audição. Você cai de amores ao ouvir as nuances do sotaque quando ela canta em francês. As letras muitas vezes acompanham a imagem de frágil dessa loirinha de cabelos curtos e óculos grande, como em Everything I've Got, quando ela romantiza com bom-humor e se entrega em rimas simples: "I have eyes for you to give you dirty looks / I have words that do not come from children's book / There's a trick with a knife I'm learning to do / But everything i've got belongs to you". A voz, apesar de suave, não é frágil, é constante e tem sua força justamente na enorme beleza. Blossom morreu no início desse ano. Eternidade se faz assim, com a beleza de uma obra-prima.

22 de outubro de 2009


Seria pop se tirassem as estranhices do som. Seria estranho se não fosse um pouco pop. Seria agressivo se não fosse a doçura em alguns momentos. Seria chato se não fosse a força imposta na voz. Assim se define a mistura coesa-mas-nem-tanto de A Mouthful, primeiro disco da dupla franco-finlandesa The Do. O pop vem com as batidas dançantes da guitarra e o ritmo fácil de alguns refrões na voz de Olivia Merilahti, que se mistura com a estranhice de um coral de crianças em "Playground Hustle", com o ritmo quase tribal de "Unissasi Laulelet" e no hip-hop(?) bagunçado de "Queen Dot Kong". A doçura vem de momentos calmos como em "When Was I Last Home", "Song for Lovers" e bonitos como em "At Last". A força que controla o excesso de doçura vem com gritos quase histéricos, barulhos perdidos e crescentes vocais. Um disco que brinca bastante, logo, um disco divertido e bonito.

12 de agosto de 2009

Noah and the Whale - First Days of Spring (2009)

Leia a resenha do disco no MoveThatJukebox. Estou colaborando por lá agora.

Obs.: A banda é boa, mas o tamanho da qualidade é também o tamanho da chatice. Já tive problemas com downloads deles. Por duas vezes o post foi apagado e recebi um e-mail bem legal me avisando que eu estava colocando material indevido no blog. Mas tudo bem, deem uma olhada nos comentários...

15 de julho de 2009


Olha o começo da biografia na página dele. "B.A. Johnston is a fat lazy chud who lives with his mother in Hamilton, Ontario. He only leaves the house to play shows, work as a fry cook, and to go on sporadic dates that his mom gets for him at her hair salon." Não dá vontade de ouvir um cara como esse? É bom que a apresentação já afasta quem procura um som 'fofinho'. De fofinho só o corpinho de B.A. Johnston mesmo. As músicas soam como um indie-pop-folk sem muita preocupação e engraçadinho. Em várias canções o teclado mostra seu leque de opções sonoras, que tentam imitar aqueles sons de vídeo-game antigos. Falando nisso, as letras são cruas, com opiniões sobre o que gosta e o que odeia, coisas do trabalho e muita referência aos jogos de vídeo-game. A voz consegue até ser bonitinha às vezes, soando jovem, naquele jeito acelerado de cantar. Em alguns momentos você quer apenas ouvir uma canção por diversão. Eu me divirto ouvindo alguém cantando sua conversa com o Megaman sobre um coração partido, e você?

'You’ve got my heart blinking like an old Nintendo
It’s never going to work again
And mega man 2 says BA
What’s wrong with you?'

12 de julho de 2009


Com o sotaque britânico forte, melodias alegres, comandadas pelo violão e animadas por violinos, bateria, sopros e backing vocals, num folk ensolarado e com letras sérias e espertas, eu não me sinto inseguro ao fazer uma comparação com os também britânicos do Noah and the Whale. Faço a comparação pela grande similaridade sonora e também pelo sentimento que a música me passa, num misto de calma e alegria. Johnny Flynn tem uma voz muito charmosa. As melodias são em sua maioria mais calmas, com destaque para o dedilhado nos arranjos do violão. As letras são em certo ponto sérias e poéticas, ainda que com toques de pessoalidade. Como quando confessa uma admiração dizendo "I wonder where you learned to be so good / I wonder if I'm doing the best I could" na canção Brown Trout Blues ou quando tenta estratégias para escapar de certos medos ao cantar "Pray for the people inside your head / for they won't be there when you're dead" em Tickle Me Pink. Ao longo do disco as canções seguem um linha fiel de tranquilidade, alegria e beleza. O disco já começa bem, com o refrão grudento da canção The Box, num coro de libertação:

Sweep my mess away
Leave my body, leave my bones
Leave me whole and leave my soul
Leave me nothing I don't need at all
Nothing I don't need at all


As canções do Page France vem realmente como um vento bem-vindo. Tão leves quantos seus títulos de uma palavra só, as melodias são ensolaradas e leves, num folk bem-humorado e criativo. As letras ventam pequenas frases espertas e que ficam na cabeça fácil fácil (se você não tiver uma cabeça de vento). O texto é curto pra pegar carona na leveza das canções. Tchau.

11 de julho de 2009


Podem até tentar fazer um resgate, trazer uma referência, uma homenagem, uma tentativa estilística, podem até fazer a gravação com técnicas da época que nem assim algo gravado hoje em dia vai proporcionar o mesmo clima, a mesma sensação de se suspender no tempo do que as canções dos anos 60. Principalmente de artistas como Vashti Bunyan. O folk enfeitado é o suporte para uma voz que declama quase que um canto místico, meio mantra meio gemido, na maioria das vezes sobre pequenas histórias de amor (muitas que não deram certo). Some Things Just Stick in Your Mind é um disco duplo trazendo singles e demos gravados entre 1964 e 1967. Para mim o encanto do disco está na segunda parte dele, que foi retirada de uma fita com 12 canções com apenas voz e violão e Vashti dizendo o nome de cada canção no início de cada faixa.

9 de julho de 2009


De forma crua Lulina traz seu mundo pra dentro das canções. Sem medo de parecer boba com suas manias e suas rimas, ela traz no seu sotaque pernambucano letras cheias de fantasia e verdade. A fantasia e a verdade se abraçam em melodias de acordes simples, cheias de barulho e ainda assim confortantes. A fantasia e a verdade dançam juntas com frases nuas, sem uma preocupação poética exagerada e apenas uma forcinha para a rima ajudar o ritmo. Ao dizer que Lulina parece não ter uma preocupação poética exagerada, não leia que ela não consiga alcançar beleza e certos níveis de profundidade. É que o bom-humor faz tudo isso se tornar mais leve. É uma canção que lhe força a abrir o ouvido, pois não se sabe o que pode vir depois da próxima vírgula ou daquele acorde estridente do teclado. Um disco cheio de surpresas de uma menina que misturou seu mundo de fantasia e seu dia-a-dia em canções e agora, talvez, não consiga mais separar.

Lulina - Silêncio

Silêncio
É o que faz a gente parar
E no silêncio
Poder pensar
Em alguma coisa difícil
De encontrar uma explicação
Melhor aumentar o volume da solução
Silêncio
Me faz ouvir besteiras
Que estão aqui dentro
Dentro de mim
Querendo me dar uma lição
Mas tenho problemas de audição
Melhor cantar qualquer canção
Vai me salvar
De me escutar
No silêncio
Não tenho como me guiar
E me lembro
Do jantar
E que eu tenho que ligar
Pra um amigo
Que eu não sei o que fazer comigo
Que eu já estou velho demais
E ainda não me sinto capaz
De ficar em paz
Com o silêncio
Eu quero barulho
Até ficar surdo
E o silêncio
Será meu escudo contra o absurdo
De eu não querer encontrar
Uma explicação
Melhor abaixar o volume


8 de julho de 2009


Uma voz pesada e sem aquelas perfeições que às vezes soam apenas como técnica aguçada. O disco é carregado de palavras arrastadas, que se deixam sujar por uma paisagem interiorana. As melodias me fazem imaginar aquelas bandas de senhores mais velhos, com uma bagagem cheia de referências country, folk e até um pouco de jazz. Pra quem já conhecia Bosque Brown, Baby vai parecer mais bem arranjado que o anterior, Bosque Brown Plays Mara Lee Miller, o que funciona muito bem com a já citada arrastada e pesada voz de Mara Lee Miller. As letras continuam explorando metáforas leves, sem surpreender, mas com a presença de muitos sentimentos que sempre nos servem.

7 de julho de 2009


Uma voz grave que canta coisas macias. Um som preenchido de elementos leves. Entre piano, acordeon, violão e bateria, Thiago Pethit não soa nem daqui nem de fora. Acredito que soe como quer que sua música seja. É como o contraste da voz grave com letras macias e do som bem completo com uma melodia leve, numa espécie de liberdade. Liberdade de rótulos, de amarras estilísticas e de limitações criativas. Por isso mesmo talvez a escolha de cantar em inglês, português e francês, naquela vontade de atingir o mundo inteiro, que até uma música feita especialmente para uma pessoa tem. As melodias possuem a beleza em seus momentos calmos e até um convite para a dança em momentos animados. Thiago ainda brinca com a voz, de forma teatral. Um EP charmoso e criativo.

6 de julho de 2009


O álbum foi gravado em 12 horas. O que poderia soar como desleixo, cai aos ouvidos como veracidade e intimidade. A voz arranhada e despreocupada, quase parodiando Jonathan Richman, traz letras que soam verdadeiras justamente por deixar de lado uma grande preocupação poética, mas ainda assim contendo certa beleza e pontos de romantismo. O anti-folk remendado entre o início de carreira do Herman Dune e o bom-humor da melodia de Jonathan Richman estão presentes como no disco anterior. Mas If You Leave It Alone é mais calmo que Instant Coffee Baby. A tríplice violão, baixo e bateria se completam muito bem e são enfeitadas por participações de instrumentos de sopro. Talvez por ter sido gravado em menos de um dia, o disco tenha uma unidade interessante. Começando com a canção que dá nome ao disco, levada numa base de baixo, passando pela animada e divertida Bye Bye Bumble Belly e terminando com a chorada versão de Nothing Can Change This Love.

5 de julho de 2009


Matthew Houck redesenhou Willie Nelson. Mas não é como se inspirar e criar algo novo. Nem mudar os traços para impressionar ou reconstruir uma imagem. É mais como olhar uma imagem e, por admiração, tentar desenhar o mais parecido possível, sabendo apenas que seu traço é diferente e que em alguns pedaços o desenho vai sair um pouco torto, sem deixar de ser belo. Por isso mesmo, a mesma paisagem empoeirada que Willie consegue erguer em seu country, Matthew também consegue, apenas em tons diferentes. Uma bela homenagem. A beleza está na fidelidade sonora nascida de uma admiração.

4 de julho de 2009


Ao ouvir o disco dá vontade de colocar uma lente que deixe tudo nublado, granulado e com cores naturais. Dá vontade de se vestir ao estilo sessentista e fazer parte de alguma história de amor, com final feliz ou não. Daquelas histórias bobinhas mas não ingênuas. Daria vontade, entre uma canção e outra, de se apaixonar e suspirar "When I saw you smile / I saw a dream come true / So I asked you, maybe, baby / What you going to do?" como na canção I Was Made for You, ou então reclamar de um amor quebradiço, resmungando "I'm alone on a bicycle for two" da canção Black Hole. Entrar nesse cenário descrito fica mais fácil, porque a própria cantora, Zooey Deschanel, que também é atriz, declama com extrema verdade e beleza essas histórias de amor. A melodia, comandada por M. Ward também é fiel ao clima proposto e traz um folk balada meio derretido e bem humorado.

28 de junho de 2009


Sabe quando uma música te passa um estado de maciez? Poderia fazer um texto repleto de metáforas com algodão, almofadas e travesseiros. São todos elementos que permitem um espécie de flutuação mesmo com a gravidade agindo sobre seu corpo. Esse conforto proporcionado é perfeito para ouvir a frágil e bela voz de Tiê, cantando pequenas histórias de amor, sempre com a beleza de coisas reais, intimistas e a riqueza de fantasias que trazem o estado de se sentir macio. Com acordes simples, o violão e o piano apenas deixam a voz de Tiê confortável para explorar as nuances de letras em português, inglês e francês. Sweet Jardim é pra deixar o mundo em câmera lenta, como se ele fosse coberto por travesseiros, almofadas e algodão e em cada esquina desabrochasse pequenas histórias de amor.

26 de junho de 2009

Julie Doiron - Il Motore - Montréal, CA - 28 de março de 2009 -



Março inteiro eu vi pôsteres do show da Julie por toda cidade. Show bastante divulgado, o que reflete sua relevância em Quebec.

Posso dizer que a sensação foi que ela fez um show na sala da minha casa - o lugar era dos pequenos, com sistema de som bem preparado e o público contemplativo. Além do mais, consegui a façanha de me sentar numa das caixas de som coladas no palquinho de 50cm de altura. A banda de abertura, One Hundred Dollars, abriu com um 'folkzinho female' bem agradável. Um warm up providencial para o que estava por vir.

O show começou com o previsível: melodias pesadas e bem arrastadas embaladas com a voz suave. Fechei os olhos várias vezes e “senti” a música, depois vi que várias pessoas faziam o mesmo. Um ponto extremante positivo dela - uma conexão forte com a platéia, emocional e até visceral. No entanto, lá pela quarta música, a maconha bateu, encarnou a tagarela nela. A partir daí, no intervalo de todas as músicas ela faria um discurso sobre qualquer desimportância, chegando a parar no começo de determinadas canções, pois havia lembrado de algo trival. Falou de sua viagem a Toronto e o quanto as estradas estão cheias de maus motoristas, falou da sua admiração pelo marido, da infância, da paz mudial, de qualquer assunto aleatório que se pode imaginar. O show seguiu nessa dinâmica, que, por mais cansativa que fosse, me divertiu. Do aspecto setlist, cobriu um pouco de cada álbum. Tocou os sucessos e poucas do disco novo e entrou numa de “requests”. Do meio para o fim, perguntava à platéia se existia alguma música do seu acervo que queríamos ouvir. Prontamente, gritei por “Sorry pt.2″ e outros sem-vergonha gritaram por outras. Ela tocou rigorosamente todos os pedidos. Achei simpático e ela complementaria a simpatia ficando, a própria, na mesinha de vendas de cds, vinis e camisetas.


Fui na tal vendinha, comprei uma camiseta e troquei umas palavras de elogios com ela. Ela foi um amor e ainda me ajudou a advinhar o tamanho da minha camisa:

Julie: "You must be a medium, I'm a medium"
Duda: "I'm glad we got something in commom"
Julie: "I'm sure it's not the only thing... otherwise you wouldn't be here :)"

25 de junho de 2009


Mais do que uma resenha, esse post é um convite. A música nervosa, não-lógica e bela do A Hawk and a Hacksaw desperta em mim uma vontade de dançar. Meio que transformar os sentimentos que a gente guarda no peito em fitas coloridas, segurá-las nas mãos e girar, pular, se contorcer, tentar se transformar em vento e perder as limitações físicas do corpo. Não possuo a mínima habilidade para a dança (infelizmente) e muito menos sei como se faz os 'pra lá e pra cá' desse ritmo dos balcãs, meio cigano com polca. Mas o fato é que o acordeon de Jeremy Barnes e o violino de Heather Trost me fazem querer isso. Délivrance tem esse clima perfeito. Dá vontade de alugar uma casa vazia por um dia, colocar o disco, fechar os olhos e dançar com meus sentimentos. De forma muito habilidosa, a dupla do A Hawk and a Hacksaw consegue desenhar diversos sentimentos ao longo do disco. Não vou nem tentar listá-los. Cada trecho parece invocar um movimento não-ensaiado. Consigo me imaginar lentamente arrastando meus braços e pernas em canções mais lentas e girando e explodindo em canções mais agitadas. Mas, sobre o convite, alguém me acompanha?

12 de junho de 2009


Preguiça de escrever, vou ser pontual:

- folk tropical e criativo.
- canções em inglês com forte sotaque espanhol.
- voz grave, às vezes bonita, às vezes engraçada.
- letras estranhas e interessantes, o que é bom.
- um bigodão.

11 de junho de 2009


Laura Peek demorou dois anos para produzir e lançar esse álbum. O motivo pode ser os diversos trabalhos paralelos, mas para mim, é como se cada nota de cada tecla do seu piano precisasse de um clima especial, um dia que os dedos amanhecessem de bem com a vida, por isso a demora. Ao ouvir, é um disco que se apresenta com carinho. É possível ouvir a suavidade dele, tudo muito macio. As letras são espertas e a voz, séria e bonita, disputa a atenção com o piano. Laura ainda contou com uma dupla de baixo e bateria, os Winning Hearts, que conseguem envolver a sonoridade num clima meio jazz. As canções são todas parecidas, o que ao invés de enjoar, cria uma unidade bonita para o álbum.

4 de junho de 2009


Tem vezes que a gente ouve um disco e se empolga. Lembro de ter falado super bem de alguns discos que hoje raramente ouço. Mas é tão bom ser impulsivo e se deixar apaixonar assim. Tem paixões que não morrem. Em junho de 2007 eu escrevi sobre o Arrah and the Ferns o seguinte:

'Eu estou nesse exato momento sentado em uma sala com cerca de 30 computadores. Está um pouco quente e eu estou com uma jaqueta de lã. A preguiça me bate e eu não tiro o casaco. O computador é lento. A porta da sala não fecha direito, são exatamente 17h08 e o sol começa a se pôr. O sol se pondo é bonito, mas não quando ele está batendo diretamente no seu rosto. A grande questão é: porque, mesmo com todos esses pequeno empecilhos, o calor, a lentidão do computador e o sol na cara eu ainda estou batendo o pé, balançando meu corpo e sorrindo? A resposta tem um nome, Arrah and the Ferns.'

É uma música pra isso. Não mudo nada do que eu disse. É aquele folk moderninho, bonito e divertido. A melodia é bem preenchida, com teclados, banjolim (banjo+bandolim) e barulhos diversos na percussão. As letras também são bonitas, nada super profundo, mas com temas adolescentes e espertas, cantadas por vozes que transmitem isso. Sabe quando se mistura um lado poético com algo do dia-a-dia, coisas rotineiras. É mais ou menos assim.

'If I'm alive this time tomorrow
then I'll have more time to kill'
Arrah and the Ferns em Bernadette

30 de maio de 2009


Alguém está afim de montar uma Associação de Viciados-em-vozes-femininas-cantando-algo-meio-folk Anônimos? Não entendo porque eu acabo indo atrás desse formato ou às vezes eles acabam aparecendo pra mim. Dawn Landes não tem uma melodia tão surpreendente, suas letras também não são excepcionais e sua voz é muito bonita, como outras. É claro que esse é um modelo de música que me atrai muito, mas teria uma chance maior de cansar, certo? Não. Ao pensar sobre isso eu me lembrei de um poema do Paulo Leminski. 

'das coisas
que eu fiz a metro
todos saberão
quantos quilômetros
são

aquelas
em centímetros
sentimentos mínimos
ímpetos infinitos
não?'

Depois de ler eu mudei meu jeito de ver o disco de Dawn Landes. Eu estava prestando atenção apenas naquilo que vem em metro, o velho folk, a voz bonita e as letras bonitinhas. Depois do poema eu ouvi os centímetros do disco, os barulhos que o completam e que não aparecem em outro disco qualquer, o jeito que ela consegue interpretar bem o humor da canção a partir da sua voz e as pequenas frases que te fazem sorrir por algum motivo. Uma que me chamou a atenção porque eu me identifiquei foi "We only know what to say because we practiced at home" na canção Kids in a Play. Mais uma vez eu digo, não é um disco que vai mudar a sua vida, mas é um bom disco e você pode procurar os centímetros que te chamem a atenção.

29 de maio de 2009

Noah and the Whale - Le Saints - Montréal, CA - 28 de abril de 2009

texto: Duda Gueiros

Na estrada há pouco mais de 3 anos, os Noah and The Whale também deram o ar da graça por Montréal. O quarteto, frequentemente rotulado como indie folk, contrariou os ouvidos que esperavam por um show "bonitinho" e provou que música boa tem que ter um toque rock'n'roll. Com um set-list de tamanho médio, a banda optou por metade de antigas, metade de novas e um cover dos Smiths.

A primeira música foi um momento estranho, pois entraram com uma certa seriedade e desconforto. Começaram a tocar imediatamente e sem quebrar o gelo. Creditei esse fato no reconhecimento de público, dos pequenos, por volta de duzentas pessoas. No entanto, logo na segunda música, a resposta dos fãs foi positiva demais e quebraram essa barreira com um "thank you" (com sotaque!) e sorrisos tímidos de Charlie - vocalista e detentor de um vozerio grave que impressionou em Give a Little Love. Confesso que não achava possível sem o coralzinho da versão original. Charlie com ajuda de Tom, deram conta do recado. Outros sucessos como Jocasta, 5 Years Time e Shape Of My Heart funcionaram lindo mesmo sem os agudos de Laura Marling, amiga da banda e colaboradora no álbum Peaceful the World Lays Me Down

Dois personagens peculiares fizeram um show à parte. Doug (bateria), com cara adolescente vindo direto da era grunge com sua camisa quadriculada, falta de corte de cabelo e mega agressividade ao tocar. O outro, Matt (baixo), um figura tirado de alguma coleção glam folk, com botas de oncinha e acessórios cor de rosa choque. Outro acontecimento que chamou a atenção foi a sintonia do grupo; bastante coeso, como se a banda inteira fosse uma alma só. Certo que é quase regra para uma banda acontecer ao vivo. Porém, no caso deles, é um tipo de sintonia que coloca o público na equação, baseiam-se numa relação direta: banda como um todo e cada fã. Bem especial.

A partir da segunda metade, mantiveram uma estética experimental dentro dos limites, sem nenhum exagero ou grandes invenções, até que... surge nada mais nada menos que o som de uma ESCOVA DE DENTES ELÉTRICA!! Sim, numa das músicas do álbum novo, eles usam como instrumento uma escova de dentes elétrica. Fora isso, as novas canções seguem mais ou menos o mesmo padrão do trabalho anteiror, só que levando mais pro lado da inconstância: músicas longas com o começo mais baladinha e o fim uma porradaria, barulho do pesado. A única que eles revelaram o nome se chama My Door Is Always Open. Charlie também anunciou que o novo álbum deve sair ainda este ano. Depois de sucessos tocados e as novidades bem aceitas, encerraram com um bis original. Um cover dos Smiths - A Girlfriend In a Coma -, versão que gravaram com a Laura também, mas que ao vivo, em vez de new wave, soa muito mais como um folk bêbado irlandês.

Depois do show consegui uma entrevistinha e contrariando os estereótipos de inglês frios, a banda inteira é uma simpatia só. 

Dá pra perceber no Noah and the Whale, além da linha principal na música, um carinho todo especial na produção dos vídeos e também na questão de desenhos e fotos. Vocês consideram que essa veia artística deve ser explorada em diversas áreas, é isso que vocês fazem? 

Doug: É uma coisa que tratamos com muito carinho sim, mas quem lida com isso com paixão mesmo é o Charlie.

Charlie: Ah, sim é isso que nós fazemos. É uma grande paixão que eu tenho, principalmente com a produção de vídeo. Produzi discos e clipes de amigos e de nós mesmos. E acho que esse tipo de mídia visual é tão importante quanto a musical. Inclusive, acabamos de gravar um filme para o novo álbum, produzido por mim, que vai ser lançado simultaneamente. 

Qual a interferência de artistas/amigos próximos como Laura Marling e Emmy the Great no trabalho do Noah and the Whale? 

Doug: A Laura gravou várias coisas conosco e participou do Peaceful quase inteiro. Nossos amigos têm uma participação grande na idéia da banda.

Charlie: Na verdade, isso funciona porque tratamos de forma muito casual: um monte de amigos que se juntam para fazer música e beber.

Em várias entrevistas perguntaram pra vocês sobre estilos, palavras que definissem o som da banda. Vocês seriam capazes de inventar uma palavra, uma palavra que não exista, para definir o som de vocês? 

Charlie: Essa é um pergunta díficil, mas acho que somos uma mistura de folk, rock, indie e experimental.

Se vocês fossem engolidos por uma baleia, como nos desenhos e histórias, quem ou que vocês gostariam de encontrar no estômago dela? 

Charlie: Ótima pergunta! Com certeza, Bob Dylan e o James Herriot (Todos riram nesse momento. Não faço idéia de quem seja, até pesquisei, mas não achei nada relevante. Assumi que é uma piada interna)

Doug: Pierce Brosnan, Seal e Bonnie "Prince" Billy.

Tom: Jonas (personagem da Bíblia) e Barack Obama

Matt: Paris Hilton

*Todos responderam às gargalhadas.* 

Há alguma chance de vocês tocaram no Brasil? Se houvesse um projeto de alguns shows, gostariam de vir ao Brasil? 

Charlie: Adoraríamos! Tocaríamos de graça lá se alguém arcasse com as despesas. Mas, sabe como é, estamos presos a um selo. E turnês para américa do Sul são quase impossíveis. Rolou uma proposta pra Argentina, mas acho que foi esquecida, não tenho certeza.

Doug (para o produtor): A gente queria ir para o Brasil, será que rola?

Produtor: Acho que não. Talvez Argentina.

Matt: Nós temos fãs no Brasil?

Eu: Sim! Com certeza, lotaria uma casa de show ainda maior que esta!

28 de maio de 2009


Duas palavras para esse disco da Laura Gibson: triste e nostálgico. Dois vocábulos que definem não só as letras, como a voz e a melodia presentes no folk de Beasts of Seasons. Fui escutando uma a uma, com muita atenção pra ver se encontrava alguma alegria, mas mesmo em momentos mais esperançosos o sol era atrapalhado por alguma nuvem de desânimo, saudade pesada ou pura falta de fé em qualquer coisa. Oh, Sleeper tem uma sequência grave de violoncelo que parece te cortar enquanto Laura quebra as esperanças cantando "Oh, sleeper, my keeper of days. We can't get back the spring once it's passed". E ela continua dando ultimatos que te fazem se sentir sozinho, como no refrão em dueto com uma voz masculina de Funeral Song (Time is carving in your skin). Até o mais agudo das cordas do violão parece sentir o peso do álbum e se torna afiado ao invés de alegre. O que deixa mais triste é que se percebe certa intimidade no álbum, porque mesmo com histórias pessoais, Laura cobre a vida com uma cortina de metáforas que servem em qualquer peito cheio de sentimentos nublados.

27 de maio de 2009


Daniel Johnston é especial. Quando digo especial, não é pelo politicamente correto ao falar sobre alguém com distúrbios mentais. É especial por sua visão do mundo. Daniel parece que faz da música e de seus desenhos um refúgio para de toda dificuldade que sente de conviver com pessoas, até mesmo a família. Yip Jump Music é um registro do início da carreira. O que falta de qualidade na gravação, sobra de genialidade e sinceridade nas canções. Daniel gravava seus discos, ou melhor, suas fitas k7, no quarto de casa e distribuía para os amigos. É engraçado que os primeiros lançamentos bem dizer não tinham versões definitivas, já que Daniel fazia poucas cópias e às vezes se dava conta que já não tinha uma pra ele. O jeito era gravar de novo. A melodia desconexa, nervosa e até certo ponto desafinada talvez sejam reflexos de sua mente confusa. Já a beleza e até mesmo o humor das letras mostram a sensibilidade de Daniel. Em uma mesma canção, Chord Organ Blues,  tem espaço pro humor (Everything's big in Texas /You know it is /I think I might have made a big mistake) e pra beleza de uma frase sincera (Wherever I go it's a wild wind / Maybe someday it'll blow me back home again). As canções também traziam mensagens de um recado positivo que Daniel sempre tentou passar. É o caso de Don't let the sun go down on your grievances (Do yourself a favor: become your own savior /And don't let the sun go down on your grievances). Nessa fita k7 Daniel também já mostra uma de suas fixações: Deus e o Diabo. Na canção God, Daniel fala das criações de Deus e confessa "I'm glad God made me".  Eu também fico feliz com Deus por isso (outros assuntos eu resolvo depois). 

Obs.: Quem quiser saber mais sobre a história de Daniel Johnston, eu indico o documentário "The Devil and Daniel Johnston". É lindo!

25 de maio de 2009


O disco é uma brincadeira séria. Dent May nos convida para um pequeno mundo de glamour anos 80/90, romances típicos, sensualidade duvidável e histórias bobas emabaladas por um pop divertido, com um leve toque folk e muito charmoso. O convite é literal, já que na primeira faixa, Welcome, Dent May faz a recepção e já começa suas confissões, iniciando um processo intimista. 'Welcome to my record, welcome to the show. Welcome to the party, please, enjoy my home. Sometimes I get a feeling, nobody knows my pain'. Ao longo do disco, comandado pelo ukulele, ele continua a contar histórias e mostra seu lado romântico sempre com um toque de humor. Mas é preciso cuidado, é uma linha tênue entre o que é engraçado e o que é pra ser levado a sério no mundo de Dent May. E, na verdade, só é possível entender essa diferença se você aceitar o convite da primeira faixa. Aceita?

24 de maio de 2009


Minha mãe às vezes me pergunta porque eu ouço esse tipo de música. Um violão abafado, uma voz estridente e um ritmo quase constante em todas as canções. Eu não dou muito atenção quando ela me faz essa pergunta, porque na verdade eu não estou lá quando ela pergunta. Ao redor dos meus ouvidos se constrói, sozinha, uma paisagem que me desliga de qualquer resquício de modernidade. The Carter Family é uma das bandas norte-americanas mais importantes no meio country, além de servir de inspiração para muitos outros estilos, principalmente no resgate folk dos anos 60. Uma leitura na biografia deles vale a pena. Mas sobre o disco, é uma compilação dos primeiros anos de gravações. Além das melodias, que remetem aos campos abertos do estado da Virginia, as letras, em sua maioria, são motivadoras, até pela vertente meio gospel da banda. Mas são frases, que com a ajuda da voz estridente, ficam na cabeça e servem como ditados para várias coisas na vida. Você pode estranhar o estilo no começo, mas dê uma chance e se deixe levar pelo ritmo repetitivo do violão e das melodias fáceis de acompanhar.

'There's a dark and a trouble side of life
There's a bright and a sunny side too
Though we meet with the darkness and strife,
the sunny side we also may view

Keep on the sunny side, always on the sunny side
Keep on the sunny side of life
It will help us every day,
it wil brighten all our way
if we keep on the sunny side of life'

23 de maio de 2009


Não é nenhuma obra-prima nem o melhor disco da carreira. Porém, você sempre ouve com carinho o que um amigo tem pra lhe dizer. É esse o sentimento de qualquer ouvinte frequente de Julie Doiron. É claro que não sou amigo dela, mas as histórias nas letras, o som que parece sempre próximo e os clipes acabam nos trazendo pra perto. Se torna difícil não sentir um laço de intimidade se criando. Julie Doiron mais uma vez, como fez em I Woke Myself Up, traz sonoridades que resumem um pouco sua carreira. Um certo peso de um rockzinho-anos-90 da época do Eric's Trip em Consolation Prize, o violão e a voz jovem do início da carreira solo em The Life of Dream e Nice to Come Home e a guitarra marcante de outros discos com Tailor . Sem alarde, com o jeito tímida de sempre, ela faz com que a convidemos para sentar e contar suas histórias. Pode cantar Julie!

Joni Mitchell - Blue (1971)



Sabe quando a gente deixa a mão brincar ao vento, fazendo ondulações? A voz de Joni Mitchell faz da melodia seu vento e se diverte em tonalidades que fascinam. O folk é leve e ornamentado quase sempre no violão ou piano. Além de bonita, a voz traz letras confessionais. Essa sinceridade faz de Blue um disco imerso em uma beleza frágil. Brincando com a capa, do azul mais claro saem canções leves como California e All I Want e do pesado azul escuro aparecem canções cortantes como Blue e The Last Time I Saw Richard.