29 de janeiro de 2010



O bom da música é que não há fórmulas. Não adianta juntar bons músicos, com instrumentos interessantes, um vocal bonito e decidir "vamos fazer um indie folk divertido", por exemplo. Acho que já usei esse adjetivo para algumas bandas, mas a sinceridade é o item primordial. Ohbijou junta aqueles itens citados acima de forma sincera. O resultado é a beleza de Beacons.

Os sete amigos de Toronto preenchem o álbum como quem decora calmamente uma parede com quadros de diferentes formatos, mas procurando uma unidade, nem que para isso algum deles precise receber menos destaque de vez em quando. Não há competição. A bela voz de Casey Mecija apenas dá firmeza e colore a textura do disco sem agredir.

As canções conseguem misturar beleza e diversão, numa gangorra de climas. Sobe a animação e a tristeza fica discreta. Para cima com a melancolia e a alegria fica tímida. As letras discutem problemas pessoais, analisam relacionamentos e histórias com bastante referência a aspectos da natureza como estações e elementos. É um disco cheio de elementos trançados em uma linha firme e bonita.

26 de janeiro de 2010


First Aid Kit - The Big Black and The Blue (2010)

Quatro leves toques no violão e duas vozes se arrastam afinadas, entrelaçando-se no ar, encantando os ouvidos sem precisar pedir licença para entrar e declamando "in the morning, on your journey to the sea..." É assim que começa The Big Black and The Blue, primeiro álbum das irmãs suecas do First Aid Kit, Klara e Johanna Söderberg, de 16 e 19 anos. E é só isso que ele precisa para ganhar crédito e ser ouvido até o fim.

A ligação entre as duas irmãs não é apenas sanguínea. A parceria entre violão e piano, a ciranda entre violão e ukulele, e principalmente as vozes que se prolongam nas sílabas da canções criam uma sintonia hipnotizante. O folk que brinca entre climas calmos, neutros e animados é maduro e as letras trazem cenários interessantes de explorar, como em "Ghost Town" (And I remember how you told me all you wanted to do / That dream of Paris in the morning or a New York window view / I can see it now you're married and your wife is with a child / And you're all laughing in the garden and I'm lost somewhere in your mind) ou em "Hard Believer" (Well I see you've got your bible your delusion imagery / Well I don't need your eternity or your meaning to feel free).


21 de janeiro de 2010



Há alguns meses, fui em uma cachoeira com uns amigos. A trilha da floresta era bem fechada, úmida e escura. Quanto mais longe eu estava, quanto mais as árvores pareciam me abraçar e quanto mais eu pensava que eu poderia viver daquele jeito, melhor eu me sentia. O engraçado é que agora, enquanto o cursor piscava em um paragráfo em branco, lembrei que cantei, durante a caminhada, canções da Basia Bulat, do primeiro disco, Oh, My Darling. Na água gelada, fiquei calmamente parado um tempo, cantando automaticamente, porque na minha cabeça os pensamentos estavam mais agitados que a água que caía. Agora, com o fone de ouvido bem alto, enquanto o novo álbum da Basia Bulat, Heart Of My Own, toca pela terceira vez seguida, eu me sinto próximo daquele sentimento que tive na cachoeira.

Na canção "Sugar and Spice", Basia canta: "but I listen to you, and your voice takes me out of my skin". O clima folk de Heart Of My Own tem esse poder de desprender a imaginação do corpo. O amadurecimento das canções e a segurança ao cantar pode ter sido resultado de uma experiência que Basia tem citado como fundamental para o novo trabalho. Ela passou alguns dias em uma cidade chamada Dawson City, no estado do Yukon, no Canadá, próximo ao Alasca. O lugar é praticamente deserto e o silêncio da natureza serviu de inspiração para diversas músicas. O eco de paisagens desertas trazem peso ao disco. Todos os pensamentos que devem ter passado pela cabeça da cantora enriquecem as letras.

E apesar de o silêncio ser companheiro de lugares afastados como a minha cachoeira ou a cidade canadense escolhida por Basia, as melodias não trazem um possível dueto simples de voz e violão apenas. A densidade de uma floresta fechada e úmida aparece nas canções, com a percussão dividindo o papel principal com o violão e com a bela e forte voz da cantora. Os violinos, pianos, autoharpa e ukulele dão ainda mais coesão para a obra. Heart Of My Own é minha nova floresta portátil.

19 de janeiro de 2010



Certas bandas precisam construir seu lugar no ouvido da gente. Demorei para me encantar com o primeiro disco do Vampire Weekend. No início de 2008 falavam deles como uma das apostas daquele ano. Lembro de ter simpatizado, mas não dei o braço a torcer tão facilmente. Hoje, quando eu chego do trabalho, no calor dessa cidade, e ainda preciso lavar a louça ou a roupa que se acumula na lavanderia, ligo a caixa de som bem alta e coloco Vampire Weekend para lutar com as canções evangélicas do vizinho.

Meu arsenal ganhou recentemente mais 10 boas armas. O novo disco, Contra, mostra uma linha inteligente para o perigoso segundo álbum da carreira. O Vampire Weekend avançou (leia-se amadureceu) no campo de batalha, mas com a mesma estratégia. A guerra contra o tédio e a desanimação continua armada com guitarras aceleradas e agudas, com a ótima acentuação vocal de Ezra Koening, com os tiros certeiros do teclado e a força do baixo e bateria. O hino do exército vem com sacadas jovens e espertinhas. Se continuarem nessa linha, vão fincar bandeira no ouvido inimigo.

Caso você precise vencer logo a guerra, pule direto para as faixas "Cousins" e "Holiday". Se tiver tempo de descansar nas trincheiras, procure algo mais calmo como "Horchata", "I Think Ur A Contra" e "Taxi Cab".

18 de janeiro de 2010


Laura Veirs - July Flame (2010)*

Eu fiquei me perguntando: O que faz a Laura Veirs soar mais positiva nesse novo álbum, July Flame? O detalhe que me chamou a atenção é a contemplação à luz, ao sol, ao verão. No último disco, Saltbreakers, o mar era o cenário para as mágoas, e o ouvido mergulhava em uma escuridão. Só pra brincar com a comparação dos nomes das faixas, sem ir a fundo nas letras. No disco de 2007 tinha um "Ocean Night Song". Em 2010 temos "Sun is King". Em Saltbreakers apareciam "Black Butterfly" e "Phantom Mountain". Em July Flame surge "Summer is the Champion" e "Make Somthing Good".

A resposta para o sol na paisagem de July Flame ainda não nasceu. Deve chegar em Abril. Laura está grávida. É claro que o disco não é só um hino para o sol. Existem momentos "entre nuvens", mas se colocarmos na balança, o novo disco é sim de uma temática mais alegre. "Even the most shimmering rain / empties out the sky and comes to an end" explica Laura em "Sun is King". As melodias não mudaram muito. Um violão dedilhado, guitarras com batidas leves e pianos para um clima mais pesado. Laura não surpreende, mas continua com os bons elementos. O filho que está por vir pode se orgulhar.

* link nos comentários.