Na estrada há pouco mais de 3 anos, os Noah and The Whale também deram o ar da graça por Montréal. O quarteto, frequentemente rotulado como indie folk, contrariou os ouvidos que esperavam por um show "bonitinho" e provou que música boa tem que ter um toque rock'n'roll. Com um set-list de tamanho médio, a banda optou por metade de antigas, metade de novas e um cover dos Smiths.
A primeira música foi um momento estranho, pois entraram com uma certa seriedade e desconforto. Começaram a tocar imediatamente e sem quebrar o gelo. Creditei esse fato no reconhecimento de público, dos pequenos, por volta de duzentas pessoas. No entanto, logo na segunda música, a resposta dos fãs foi positiva demais e quebraram essa barreira com um "thank you" (com sotaque!) e sorrisos tímidos de Charlie - vocalista e detentor de um vozerio grave que impressionou em Give a Little Love. Confesso que não achava possível sem o coralzinho da versão original. Charlie com ajuda de Tom, deram conta do recado. Outros sucessos como Jocasta, 5 Years Time e Shape Of My Heart funcionaram lindo mesmo sem os agudos de Laura Marling, amiga da banda e colaboradora no álbum Peaceful the World Lays Me Down.
Dois personagens peculiares fizeram um show à parte. Doug (bateria), com cara adolescente vindo direto da era grunge com sua camisa quadriculada, falta de corte de cabelo e mega agressividade ao tocar. O outro, Matt (baixo), um figura tirado de alguma coleção glam folk, com botas de oncinha e acessórios cor de rosa choque. Outro acontecimento que chamou a atenção foi a sintonia do grupo; bastante coeso, como se a banda inteira fosse uma alma só. Certo que é quase regra para uma banda acontecer ao vivo. Porém, no caso deles, é um tipo de sintonia que coloca o público na equação, baseiam-se numa relação direta: banda como um todo e cada fã. Bem especial.
A partir da segunda metade, mantiveram uma estética experimental dentro dos limites, sem nenhum exagero ou grandes invenções, até que... surge nada mais nada menos que o som de uma ESCOVA DE DENTES ELÉTRICA!! Sim, numa das músicas do álbum novo, eles usam como instrumento uma escova de dentes elétrica. Fora isso, as novas canções seguem mais ou menos o mesmo padrão do trabalho anteiror, só que levando mais pro lado da inconstância: músicas longas com o começo mais baladinha e o fim uma porradaria, barulho do pesado. A única que eles revelaram o nome se chama My Door Is Always Open. Charlie também anunciou que o novo álbum deve sair ainda este ano. Depois de sucessos tocados e as novidades bem aceitas, encerraram com um bis original. Um cover dos Smiths - A Girlfriend In a Coma -, versão que gravaram com a Laura também, mas que ao vivo, em vez de new wave, soa muito mais como um folk bêbado irlandês.
Depois do show consegui uma entrevistinha e contrariando os estereótipos de inglês frios, a banda inteira é uma simpatia só.
Dá pra perceber no Noah and the Whale, além da linha principal na música, um carinho todo especial na produção dos vídeos e também na questão de desenhos e fotos. Vocês consideram que essa veia artística deve ser explorada em diversas áreas, é isso que vocês fazem?
Doug: É uma coisa que tratamos com muito carinho sim, mas quem lida com isso com paixão mesmo é o Charlie.
Charlie: Ah, sim é isso que nós fazemos. É uma grande paixão que eu tenho, principalmente com a produção de vídeo. Produzi discos e clipes de amigos e de nós mesmos. E acho que esse tipo de mídia visual é tão importante quanto a musical. Inclusive, acabamos de gravar um filme para o novo álbum, produzido por mim, que vai ser lançado simultaneamente.
Qual a interferência de artistas/amigos próximos como Laura Marling e Emmy the Great no trabalho do Noah and the Whale?
Doug: A Laura gravou várias coisas conosco e participou do Peaceful quase inteiro. Nossos amigos têm uma participação grande na idéia da banda.
Charlie: Na verdade, isso funciona porque tratamos de forma muito casual: um monte de amigos que se juntam para fazer música e beber.
Em várias entrevistas perguntaram pra vocês sobre estilos, palavras que definissem o som da banda. Vocês seriam capazes de inventar uma palavra, uma palavra que não exista, para definir o som de vocês?
Charlie: Essa é um pergunta díficil, mas acho que somos uma mistura de folk, rock, indie e experimental.
Se vocês fossem engolidos por uma baleia, como nos desenhos e histórias, quem ou que vocês gostariam de encontrar no estômago dela?
Charlie: Ótima pergunta! Com certeza, Bob Dylan e o James Herriot (Todos riram nesse momento. Não faço idéia de quem seja, até pesquisei, mas não achei nada relevante. Assumi que é uma piada interna)
Doug: Pierce Brosnan, Seal e Bonnie "Prince" Billy.
Tom: Jonas (personagem da Bíblia) e Barack Obama
Matt: Paris Hilton
*Todos responderam às gargalhadas.*
Há alguma chance de vocês tocaram no Brasil? Se houvesse um projeto de alguns shows, gostariam de vir ao Brasil?
Charlie: Adoraríamos! Tocaríamos de graça lá se alguém arcasse com as despesas. Mas, sabe como é, estamos presos a um selo. E turnês para américa do Sul são quase impossíveis. Rolou uma proposta pra Argentina, mas acho que foi esquecida, não tenho certeza.
Doug (para o produtor): A gente queria ir para o Brasil, será que rola?
Produtor: Acho que não. Talvez Argentina.
Matt: Nós temos fãs no Brasil?
Eu: Sim! Com certeza, lotaria uma casa de show ainda maior que esta!
7 comentários:
por que é assim tão difícil vir pra américa do sul?
acredito que seja porque eles precisam de várias datas para que se torne lucrativo. e como eles não são "the next big thing" se torna mais difícil. uma pena.
Eles disseram que tocariam no Brasil de graça, se patrocinassem com estadia e passagem. O que nunca rolará é patrocínio a troco de nada :(((( ao menos que os patrocinadores ficassem com o lucro do ingresso. Porém, não seria suficiente pra cobrir os gastos e esse tipo de negociação simplesmente não existe.
nossa! não acredito que você conheceu os meninos da banda. sou super fã de noah and the whale :~
ai, que pena que eles não têm previsão de vir para o brasil..... mas vamos esperar pra ver se eles aparecem por aqui no futuro, ne. "a esperança é a única que morre"
Fica a dica pros organizadores do Coquetel Molotov e outrens.
Esse James Herriot é um escritor britânico. Tem um filme inclusive baseado num livro dele "All Creatures Great and Small".
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