15 de julho de 2009


Olha o começo da biografia na página dele. "B.A. Johnston is a fat lazy chud who lives with his mother in Hamilton, Ontario. He only leaves the house to play shows, work as a fry cook, and to go on sporadic dates that his mom gets for him at her hair salon." Não dá vontade de ouvir um cara como esse? É bom que a apresentação já afasta quem procura um som 'fofinho'. De fofinho só o corpinho de B.A. Johnston mesmo. As músicas soam como um indie-pop-folk sem muita preocupação e engraçadinho. Em várias canções o teclado mostra seu leque de opções sonoras, que tentam imitar aqueles sons de vídeo-game antigos. Falando nisso, as letras são cruas, com opiniões sobre o que gosta e o que odeia, coisas do trabalho e muita referência aos jogos de vídeo-game. A voz consegue até ser bonitinha às vezes, soando jovem, naquele jeito acelerado de cantar. Em alguns momentos você quer apenas ouvir uma canção por diversão. Eu me divirto ouvindo alguém cantando sua conversa com o Megaman sobre um coração partido, e você?

'You’ve got my heart blinking like an old Nintendo
It’s never going to work again
And mega man 2 says BA
What’s wrong with you?'

12 de julho de 2009


Com o sotaque britânico forte, melodias alegres, comandadas pelo violão e animadas por violinos, bateria, sopros e backing vocals, num folk ensolarado e com letras sérias e espertas, eu não me sinto inseguro ao fazer uma comparação com os também britânicos do Noah and the Whale. Faço a comparação pela grande similaridade sonora e também pelo sentimento que a música me passa, num misto de calma e alegria. Johnny Flynn tem uma voz muito charmosa. As melodias são em sua maioria mais calmas, com destaque para o dedilhado nos arranjos do violão. As letras são em certo ponto sérias e poéticas, ainda que com toques de pessoalidade. Como quando confessa uma admiração dizendo "I wonder where you learned to be so good / I wonder if I'm doing the best I could" na canção Brown Trout Blues ou quando tenta estratégias para escapar de certos medos ao cantar "Pray for the people inside your head / for they won't be there when you're dead" em Tickle Me Pink. Ao longo do disco as canções seguem um linha fiel de tranquilidade, alegria e beleza. O disco já começa bem, com o refrão grudento da canção The Box, num coro de libertação:

Sweep my mess away
Leave my body, leave my bones
Leave me whole and leave my soul
Leave me nothing I don't need at all
Nothing I don't need at all


As canções do Page France vem realmente como um vento bem-vindo. Tão leves quantos seus títulos de uma palavra só, as melodias são ensolaradas e leves, num folk bem-humorado e criativo. As letras ventam pequenas frases espertas e que ficam na cabeça fácil fácil (se você não tiver uma cabeça de vento). O texto é curto pra pegar carona na leveza das canções. Tchau.

11 de julho de 2009


Podem até tentar fazer um resgate, trazer uma referência, uma homenagem, uma tentativa estilística, podem até fazer a gravação com técnicas da época que nem assim algo gravado hoje em dia vai proporcionar o mesmo clima, a mesma sensação de se suspender no tempo do que as canções dos anos 60. Principalmente de artistas como Vashti Bunyan. O folk enfeitado é o suporte para uma voz que declama quase que um canto místico, meio mantra meio gemido, na maioria das vezes sobre pequenas histórias de amor (muitas que não deram certo). Some Things Just Stick in Your Mind é um disco duplo trazendo singles e demos gravados entre 1964 e 1967. Para mim o encanto do disco está na segunda parte dele, que foi retirada de uma fita com 12 canções com apenas voz e violão e Vashti dizendo o nome de cada canção no início de cada faixa.

9 de julho de 2009


De forma crua Lulina traz seu mundo pra dentro das canções. Sem medo de parecer boba com suas manias e suas rimas, ela traz no seu sotaque pernambucano letras cheias de fantasia e verdade. A fantasia e a verdade se abraçam em melodias de acordes simples, cheias de barulho e ainda assim confortantes. A fantasia e a verdade dançam juntas com frases nuas, sem uma preocupação poética exagerada e apenas uma forcinha para a rima ajudar o ritmo. Ao dizer que Lulina parece não ter uma preocupação poética exagerada, não leia que ela não consiga alcançar beleza e certos níveis de profundidade. É que o bom-humor faz tudo isso se tornar mais leve. É uma canção que lhe força a abrir o ouvido, pois não se sabe o que pode vir depois da próxima vírgula ou daquele acorde estridente do teclado. Um disco cheio de surpresas de uma menina que misturou seu mundo de fantasia e seu dia-a-dia em canções e agora, talvez, não consiga mais separar.

Lulina - Silêncio

Silêncio
É o que faz a gente parar
E no silêncio
Poder pensar
Em alguma coisa difícil
De encontrar uma explicação
Melhor aumentar o volume da solução
Silêncio
Me faz ouvir besteiras
Que estão aqui dentro
Dentro de mim
Querendo me dar uma lição
Mas tenho problemas de audição
Melhor cantar qualquer canção
Vai me salvar
De me escutar
No silêncio
Não tenho como me guiar
E me lembro
Do jantar
E que eu tenho que ligar
Pra um amigo
Que eu não sei o que fazer comigo
Que eu já estou velho demais
E ainda não me sinto capaz
De ficar em paz
Com o silêncio
Eu quero barulho
Até ficar surdo
E o silêncio
Será meu escudo contra o absurdo
De eu não querer encontrar
Uma explicação
Melhor abaixar o volume


8 de julho de 2009


Uma voz pesada e sem aquelas perfeições que às vezes soam apenas como técnica aguçada. O disco é carregado de palavras arrastadas, que se deixam sujar por uma paisagem interiorana. As melodias me fazem imaginar aquelas bandas de senhores mais velhos, com uma bagagem cheia de referências country, folk e até um pouco de jazz. Pra quem já conhecia Bosque Brown, Baby vai parecer mais bem arranjado que o anterior, Bosque Brown Plays Mara Lee Miller, o que funciona muito bem com a já citada arrastada e pesada voz de Mara Lee Miller. As letras continuam explorando metáforas leves, sem surpreender, mas com a presença de muitos sentimentos que sempre nos servem.

7 de julho de 2009


Uma voz grave que canta coisas macias. Um som preenchido de elementos leves. Entre piano, acordeon, violão e bateria, Thiago Pethit não soa nem daqui nem de fora. Acredito que soe como quer que sua música seja. É como o contraste da voz grave com letras macias e do som bem completo com uma melodia leve, numa espécie de liberdade. Liberdade de rótulos, de amarras estilísticas e de limitações criativas. Por isso mesmo talvez a escolha de cantar em inglês, português e francês, naquela vontade de atingir o mundo inteiro, que até uma música feita especialmente para uma pessoa tem. As melodias possuem a beleza em seus momentos calmos e até um convite para a dança em momentos animados. Thiago ainda brinca com a voz, de forma teatral. Um EP charmoso e criativo.

6 de julho de 2009


O álbum foi gravado em 12 horas. O que poderia soar como desleixo, cai aos ouvidos como veracidade e intimidade. A voz arranhada e despreocupada, quase parodiando Jonathan Richman, traz letras que soam verdadeiras justamente por deixar de lado uma grande preocupação poética, mas ainda assim contendo certa beleza e pontos de romantismo. O anti-folk remendado entre o início de carreira do Herman Dune e o bom-humor da melodia de Jonathan Richman estão presentes como no disco anterior. Mas If You Leave It Alone é mais calmo que Instant Coffee Baby. A tríplice violão, baixo e bateria se completam muito bem e são enfeitadas por participações de instrumentos de sopro. Talvez por ter sido gravado em menos de um dia, o disco tenha uma unidade interessante. Começando com a canção que dá nome ao disco, levada numa base de baixo, passando pela animada e divertida Bye Bye Bumble Belly e terminando com a chorada versão de Nothing Can Change This Love.

5 de julho de 2009


Matthew Houck redesenhou Willie Nelson. Mas não é como se inspirar e criar algo novo. Nem mudar os traços para impressionar ou reconstruir uma imagem. É mais como olhar uma imagem e, por admiração, tentar desenhar o mais parecido possível, sabendo apenas que seu traço é diferente e que em alguns pedaços o desenho vai sair um pouco torto, sem deixar de ser belo. Por isso mesmo, a mesma paisagem empoeirada que Willie consegue erguer em seu country, Matthew também consegue, apenas em tons diferentes. Uma bela homenagem. A beleza está na fidelidade sonora nascida de uma admiração.

4 de julho de 2009


Ao ouvir o disco dá vontade de colocar uma lente que deixe tudo nublado, granulado e com cores naturais. Dá vontade de se vestir ao estilo sessentista e fazer parte de alguma história de amor, com final feliz ou não. Daquelas histórias bobinhas mas não ingênuas. Daria vontade, entre uma canção e outra, de se apaixonar e suspirar "When I saw you smile / I saw a dream come true / So I asked you, maybe, baby / What you going to do?" como na canção I Was Made for You, ou então reclamar de um amor quebradiço, resmungando "I'm alone on a bicycle for two" da canção Black Hole. Entrar nesse cenário descrito fica mais fácil, porque a própria cantora, Zooey Deschanel, que também é atriz, declama com extrema verdade e beleza essas histórias de amor. A melodia, comandada por M. Ward também é fiel ao clima proposto e traz um folk balada meio derretido e bem humorado.