28 de junho de 2009


Sabe quando uma música te passa um estado de maciez? Poderia fazer um texto repleto de metáforas com algodão, almofadas e travesseiros. São todos elementos que permitem um espécie de flutuação mesmo com a gravidade agindo sobre seu corpo. Esse conforto proporcionado é perfeito para ouvir a frágil e bela voz de Tiê, cantando pequenas histórias de amor, sempre com a beleza de coisas reais, intimistas e a riqueza de fantasias que trazem o estado de se sentir macio. Com acordes simples, o violão e o piano apenas deixam a voz de Tiê confortável para explorar as nuances de letras em português, inglês e francês. Sweet Jardim é pra deixar o mundo em câmera lenta, como se ele fosse coberto por travesseiros, almofadas e algodão e em cada esquina desabrochasse pequenas histórias de amor.

26 de junho de 2009

Julie Doiron - Il Motore - Montréal, CA - 28 de março de 2009 -



Março inteiro eu vi pôsteres do show da Julie por toda cidade. Show bastante divulgado, o que reflete sua relevância em Quebec.

Posso dizer que a sensação foi que ela fez um show na sala da minha casa - o lugar era dos pequenos, com sistema de som bem preparado e o público contemplativo. Além do mais, consegui a façanha de me sentar numa das caixas de som coladas no palquinho de 50cm de altura. A banda de abertura, One Hundred Dollars, abriu com um 'folkzinho female' bem agradável. Um warm up providencial para o que estava por vir.

O show começou com o previsível: melodias pesadas e bem arrastadas embaladas com a voz suave. Fechei os olhos várias vezes e “senti” a música, depois vi que várias pessoas faziam o mesmo. Um ponto extremante positivo dela - uma conexão forte com a platéia, emocional e até visceral. No entanto, lá pela quarta música, a maconha bateu, encarnou a tagarela nela. A partir daí, no intervalo de todas as músicas ela faria um discurso sobre qualquer desimportância, chegando a parar no começo de determinadas canções, pois havia lembrado de algo trival. Falou de sua viagem a Toronto e o quanto as estradas estão cheias de maus motoristas, falou da sua admiração pelo marido, da infância, da paz mudial, de qualquer assunto aleatório que se pode imaginar. O show seguiu nessa dinâmica, que, por mais cansativa que fosse, me divertiu. Do aspecto setlist, cobriu um pouco de cada álbum. Tocou os sucessos e poucas do disco novo e entrou numa de “requests”. Do meio para o fim, perguntava à platéia se existia alguma música do seu acervo que queríamos ouvir. Prontamente, gritei por “Sorry pt.2″ e outros sem-vergonha gritaram por outras. Ela tocou rigorosamente todos os pedidos. Achei simpático e ela complementaria a simpatia ficando, a própria, na mesinha de vendas de cds, vinis e camisetas.


Fui na tal vendinha, comprei uma camiseta e troquei umas palavras de elogios com ela. Ela foi um amor e ainda me ajudou a advinhar o tamanho da minha camisa:

Julie: "You must be a medium, I'm a medium"
Duda: "I'm glad we got something in commom"
Julie: "I'm sure it's not the only thing... otherwise you wouldn't be here :)"

25 de junho de 2009


Mais do que uma resenha, esse post é um convite. A música nervosa, não-lógica e bela do A Hawk and a Hacksaw desperta em mim uma vontade de dançar. Meio que transformar os sentimentos que a gente guarda no peito em fitas coloridas, segurá-las nas mãos e girar, pular, se contorcer, tentar se transformar em vento e perder as limitações físicas do corpo. Não possuo a mínima habilidade para a dança (infelizmente) e muito menos sei como se faz os 'pra lá e pra cá' desse ritmo dos balcãs, meio cigano com polca. Mas o fato é que o acordeon de Jeremy Barnes e o violino de Heather Trost me fazem querer isso. Délivrance tem esse clima perfeito. Dá vontade de alugar uma casa vazia por um dia, colocar o disco, fechar os olhos e dançar com meus sentimentos. De forma muito habilidosa, a dupla do A Hawk and a Hacksaw consegue desenhar diversos sentimentos ao longo do disco. Não vou nem tentar listá-los. Cada trecho parece invocar um movimento não-ensaiado. Consigo me imaginar lentamente arrastando meus braços e pernas em canções mais lentas e girando e explodindo em canções mais agitadas. Mas, sobre o convite, alguém me acompanha?

12 de junho de 2009


Preguiça de escrever, vou ser pontual:

- folk tropical e criativo.
- canções em inglês com forte sotaque espanhol.
- voz grave, às vezes bonita, às vezes engraçada.
- letras estranhas e interessantes, o que é bom.
- um bigodão.

11 de junho de 2009


Laura Peek demorou dois anos para produzir e lançar esse álbum. O motivo pode ser os diversos trabalhos paralelos, mas para mim, é como se cada nota de cada tecla do seu piano precisasse de um clima especial, um dia que os dedos amanhecessem de bem com a vida, por isso a demora. Ao ouvir, é um disco que se apresenta com carinho. É possível ouvir a suavidade dele, tudo muito macio. As letras são espertas e a voz, séria e bonita, disputa a atenção com o piano. Laura ainda contou com uma dupla de baixo e bateria, os Winning Hearts, que conseguem envolver a sonoridade num clima meio jazz. As canções são todas parecidas, o que ao invés de enjoar, cria uma unidade bonita para o álbum.

4 de junho de 2009


Tem vezes que a gente ouve um disco e se empolga. Lembro de ter falado super bem de alguns discos que hoje raramente ouço. Mas é tão bom ser impulsivo e se deixar apaixonar assim. Tem paixões que não morrem. Em junho de 2007 eu escrevi sobre o Arrah and the Ferns o seguinte:

'Eu estou nesse exato momento sentado em uma sala com cerca de 30 computadores. Está um pouco quente e eu estou com uma jaqueta de lã. A preguiça me bate e eu não tiro o casaco. O computador é lento. A porta da sala não fecha direito, são exatamente 17h08 e o sol começa a se pôr. O sol se pondo é bonito, mas não quando ele está batendo diretamente no seu rosto. A grande questão é: porque, mesmo com todos esses pequeno empecilhos, o calor, a lentidão do computador e o sol na cara eu ainda estou batendo o pé, balançando meu corpo e sorrindo? A resposta tem um nome, Arrah and the Ferns.'

É uma música pra isso. Não mudo nada do que eu disse. É aquele folk moderninho, bonito e divertido. A melodia é bem preenchida, com teclados, banjolim (banjo+bandolim) e barulhos diversos na percussão. As letras também são bonitas, nada super profundo, mas com temas adolescentes e espertas, cantadas por vozes que transmitem isso. Sabe quando se mistura um lado poético com algo do dia-a-dia, coisas rotineiras. É mais ou menos assim.

'If I'm alive this time tomorrow
then I'll have more time to kill'
Arrah and the Ferns em Bernadette