30 de maio de 2009


Alguém está afim de montar uma Associação de Viciados-em-vozes-femininas-cantando-algo-meio-folk Anônimos? Não entendo porque eu acabo indo atrás desse formato ou às vezes eles acabam aparecendo pra mim. Dawn Landes não tem uma melodia tão surpreendente, suas letras também não são excepcionais e sua voz é muito bonita, como outras. É claro que esse é um modelo de música que me atrai muito, mas teria uma chance maior de cansar, certo? Não. Ao pensar sobre isso eu me lembrei de um poema do Paulo Leminski. 

'das coisas
que eu fiz a metro
todos saberão
quantos quilômetros
são

aquelas
em centímetros
sentimentos mínimos
ímpetos infinitos
não?'

Depois de ler eu mudei meu jeito de ver o disco de Dawn Landes. Eu estava prestando atenção apenas naquilo que vem em metro, o velho folk, a voz bonita e as letras bonitinhas. Depois do poema eu ouvi os centímetros do disco, os barulhos que o completam e que não aparecem em outro disco qualquer, o jeito que ela consegue interpretar bem o humor da canção a partir da sua voz e as pequenas frases que te fazem sorrir por algum motivo. Uma que me chamou a atenção porque eu me identifiquei foi "We only know what to say because we practiced at home" na canção Kids in a Play. Mais uma vez eu digo, não é um disco que vai mudar a sua vida, mas é um bom disco e você pode procurar os centímetros que te chamem a atenção.

29 de maio de 2009

Noah and the Whale - Le Saints - Montréal, CA - 28 de abril de 2009

texto: Duda Gueiros

Na estrada há pouco mais de 3 anos, os Noah and The Whale também deram o ar da graça por Montréal. O quarteto, frequentemente rotulado como indie folk, contrariou os ouvidos que esperavam por um show "bonitinho" e provou que música boa tem que ter um toque rock'n'roll. Com um set-list de tamanho médio, a banda optou por metade de antigas, metade de novas e um cover dos Smiths.

A primeira música foi um momento estranho, pois entraram com uma certa seriedade e desconforto. Começaram a tocar imediatamente e sem quebrar o gelo. Creditei esse fato no reconhecimento de público, dos pequenos, por volta de duzentas pessoas. No entanto, logo na segunda música, a resposta dos fãs foi positiva demais e quebraram essa barreira com um "thank you" (com sotaque!) e sorrisos tímidos de Charlie - vocalista e detentor de um vozerio grave que impressionou em Give a Little Love. Confesso que não achava possível sem o coralzinho da versão original. Charlie com ajuda de Tom, deram conta do recado. Outros sucessos como Jocasta, 5 Years Time e Shape Of My Heart funcionaram lindo mesmo sem os agudos de Laura Marling, amiga da banda e colaboradora no álbum Peaceful the World Lays Me Down

Dois personagens peculiares fizeram um show à parte. Doug (bateria), com cara adolescente vindo direto da era grunge com sua camisa quadriculada, falta de corte de cabelo e mega agressividade ao tocar. O outro, Matt (baixo), um figura tirado de alguma coleção glam folk, com botas de oncinha e acessórios cor de rosa choque. Outro acontecimento que chamou a atenção foi a sintonia do grupo; bastante coeso, como se a banda inteira fosse uma alma só. Certo que é quase regra para uma banda acontecer ao vivo. Porém, no caso deles, é um tipo de sintonia que coloca o público na equação, baseiam-se numa relação direta: banda como um todo e cada fã. Bem especial.

A partir da segunda metade, mantiveram uma estética experimental dentro dos limites, sem nenhum exagero ou grandes invenções, até que... surge nada mais nada menos que o som de uma ESCOVA DE DENTES ELÉTRICA!! Sim, numa das músicas do álbum novo, eles usam como instrumento uma escova de dentes elétrica. Fora isso, as novas canções seguem mais ou menos o mesmo padrão do trabalho anteiror, só que levando mais pro lado da inconstância: músicas longas com o começo mais baladinha e o fim uma porradaria, barulho do pesado. A única que eles revelaram o nome se chama My Door Is Always Open. Charlie também anunciou que o novo álbum deve sair ainda este ano. Depois de sucessos tocados e as novidades bem aceitas, encerraram com um bis original. Um cover dos Smiths - A Girlfriend In a Coma -, versão que gravaram com a Laura também, mas que ao vivo, em vez de new wave, soa muito mais como um folk bêbado irlandês.

Depois do show consegui uma entrevistinha e contrariando os estereótipos de inglês frios, a banda inteira é uma simpatia só. 

Dá pra perceber no Noah and the Whale, além da linha principal na música, um carinho todo especial na produção dos vídeos e também na questão de desenhos e fotos. Vocês consideram que essa veia artística deve ser explorada em diversas áreas, é isso que vocês fazem? 

Doug: É uma coisa que tratamos com muito carinho sim, mas quem lida com isso com paixão mesmo é o Charlie.

Charlie: Ah, sim é isso que nós fazemos. É uma grande paixão que eu tenho, principalmente com a produção de vídeo. Produzi discos e clipes de amigos e de nós mesmos. E acho que esse tipo de mídia visual é tão importante quanto a musical. Inclusive, acabamos de gravar um filme para o novo álbum, produzido por mim, que vai ser lançado simultaneamente. 

Qual a interferência de artistas/amigos próximos como Laura Marling e Emmy the Great no trabalho do Noah and the Whale? 

Doug: A Laura gravou várias coisas conosco e participou do Peaceful quase inteiro. Nossos amigos têm uma participação grande na idéia da banda.

Charlie: Na verdade, isso funciona porque tratamos de forma muito casual: um monte de amigos que se juntam para fazer música e beber.

Em várias entrevistas perguntaram pra vocês sobre estilos, palavras que definissem o som da banda. Vocês seriam capazes de inventar uma palavra, uma palavra que não exista, para definir o som de vocês? 

Charlie: Essa é um pergunta díficil, mas acho que somos uma mistura de folk, rock, indie e experimental.

Se vocês fossem engolidos por uma baleia, como nos desenhos e histórias, quem ou que vocês gostariam de encontrar no estômago dela? 

Charlie: Ótima pergunta! Com certeza, Bob Dylan e o James Herriot (Todos riram nesse momento. Não faço idéia de quem seja, até pesquisei, mas não achei nada relevante. Assumi que é uma piada interna)

Doug: Pierce Brosnan, Seal e Bonnie "Prince" Billy.

Tom: Jonas (personagem da Bíblia) e Barack Obama

Matt: Paris Hilton

*Todos responderam às gargalhadas.* 

Há alguma chance de vocês tocaram no Brasil? Se houvesse um projeto de alguns shows, gostariam de vir ao Brasil? 

Charlie: Adoraríamos! Tocaríamos de graça lá se alguém arcasse com as despesas. Mas, sabe como é, estamos presos a um selo. E turnês para américa do Sul são quase impossíveis. Rolou uma proposta pra Argentina, mas acho que foi esquecida, não tenho certeza.

Doug (para o produtor): A gente queria ir para o Brasil, será que rola?

Produtor: Acho que não. Talvez Argentina.

Matt: Nós temos fãs no Brasil?

Eu: Sim! Com certeza, lotaria uma casa de show ainda maior que esta!

28 de maio de 2009


Duas palavras para esse disco da Laura Gibson: triste e nostálgico. Dois vocábulos que definem não só as letras, como a voz e a melodia presentes no folk de Beasts of Seasons. Fui escutando uma a uma, com muita atenção pra ver se encontrava alguma alegria, mas mesmo em momentos mais esperançosos o sol era atrapalhado por alguma nuvem de desânimo, saudade pesada ou pura falta de fé em qualquer coisa. Oh, Sleeper tem uma sequência grave de violoncelo que parece te cortar enquanto Laura quebra as esperanças cantando "Oh, sleeper, my keeper of days. We can't get back the spring once it's passed". E ela continua dando ultimatos que te fazem se sentir sozinho, como no refrão em dueto com uma voz masculina de Funeral Song (Time is carving in your skin). Até o mais agudo das cordas do violão parece sentir o peso do álbum e se torna afiado ao invés de alegre. O que deixa mais triste é que se percebe certa intimidade no álbum, porque mesmo com histórias pessoais, Laura cobre a vida com uma cortina de metáforas que servem em qualquer peito cheio de sentimentos nublados.

27 de maio de 2009


Daniel Johnston é especial. Quando digo especial, não é pelo politicamente correto ao falar sobre alguém com distúrbios mentais. É especial por sua visão do mundo. Daniel parece que faz da música e de seus desenhos um refúgio para de toda dificuldade que sente de conviver com pessoas, até mesmo a família. Yip Jump Music é um registro do início da carreira. O que falta de qualidade na gravação, sobra de genialidade e sinceridade nas canções. Daniel gravava seus discos, ou melhor, suas fitas k7, no quarto de casa e distribuía para os amigos. É engraçado que os primeiros lançamentos bem dizer não tinham versões definitivas, já que Daniel fazia poucas cópias e às vezes se dava conta que já não tinha uma pra ele. O jeito era gravar de novo. A melodia desconexa, nervosa e até certo ponto desafinada talvez sejam reflexos de sua mente confusa. Já a beleza e até mesmo o humor das letras mostram a sensibilidade de Daniel. Em uma mesma canção, Chord Organ Blues,  tem espaço pro humor (Everything's big in Texas /You know it is /I think I might have made a big mistake) e pra beleza de uma frase sincera (Wherever I go it's a wild wind / Maybe someday it'll blow me back home again). As canções também traziam mensagens de um recado positivo que Daniel sempre tentou passar. É o caso de Don't let the sun go down on your grievances (Do yourself a favor: become your own savior /And don't let the sun go down on your grievances). Nessa fita k7 Daniel também já mostra uma de suas fixações: Deus e o Diabo. Na canção God, Daniel fala das criações de Deus e confessa "I'm glad God made me".  Eu também fico feliz com Deus por isso (outros assuntos eu resolvo depois). 

Obs.: Quem quiser saber mais sobre a história de Daniel Johnston, eu indico o documentário "The Devil and Daniel Johnston". É lindo!

25 de maio de 2009


O disco é uma brincadeira séria. Dent May nos convida para um pequeno mundo de glamour anos 80/90, romances típicos, sensualidade duvidável e histórias bobas emabaladas por um pop divertido, com um leve toque folk e muito charmoso. O convite é literal, já que na primeira faixa, Welcome, Dent May faz a recepção e já começa suas confissões, iniciando um processo intimista. 'Welcome to my record, welcome to the show. Welcome to the party, please, enjoy my home. Sometimes I get a feeling, nobody knows my pain'. Ao longo do disco, comandado pelo ukulele, ele continua a contar histórias e mostra seu lado romântico sempre com um toque de humor. Mas é preciso cuidado, é uma linha tênue entre o que é engraçado e o que é pra ser levado a sério no mundo de Dent May. E, na verdade, só é possível entender essa diferença se você aceitar o convite da primeira faixa. Aceita?

24 de maio de 2009


Minha mãe às vezes me pergunta porque eu ouço esse tipo de música. Um violão abafado, uma voz estridente e um ritmo quase constante em todas as canções. Eu não dou muito atenção quando ela me faz essa pergunta, porque na verdade eu não estou lá quando ela pergunta. Ao redor dos meus ouvidos se constrói, sozinha, uma paisagem que me desliga de qualquer resquício de modernidade. The Carter Family é uma das bandas norte-americanas mais importantes no meio country, além de servir de inspiração para muitos outros estilos, principalmente no resgate folk dos anos 60. Uma leitura na biografia deles vale a pena. Mas sobre o disco, é uma compilação dos primeiros anos de gravações. Além das melodias, que remetem aos campos abertos do estado da Virginia, as letras, em sua maioria, são motivadoras, até pela vertente meio gospel da banda. Mas são frases, que com a ajuda da voz estridente, ficam na cabeça e servem como ditados para várias coisas na vida. Você pode estranhar o estilo no começo, mas dê uma chance e se deixe levar pelo ritmo repetitivo do violão e das melodias fáceis de acompanhar.

'There's a dark and a trouble side of life
There's a bright and a sunny side too
Though we meet with the darkness and strife,
the sunny side we also may view

Keep on the sunny side, always on the sunny side
Keep on the sunny side of life
It will help us every day,
it wil brighten all our way
if we keep on the sunny side of life'

23 de maio de 2009


Não é nenhuma obra-prima nem o melhor disco da carreira. Porém, você sempre ouve com carinho o que um amigo tem pra lhe dizer. É esse o sentimento de qualquer ouvinte frequente de Julie Doiron. É claro que não sou amigo dela, mas as histórias nas letras, o som que parece sempre próximo e os clipes acabam nos trazendo pra perto. Se torna difícil não sentir um laço de intimidade se criando. Julie Doiron mais uma vez, como fez em I Woke Myself Up, traz sonoridades que resumem um pouco sua carreira. Um certo peso de um rockzinho-anos-90 da época do Eric's Trip em Consolation Prize, o violão e a voz jovem do início da carreira solo em The Life of Dream e Nice to Come Home e a guitarra marcante de outros discos com Tailor . Sem alarde, com o jeito tímida de sempre, ela faz com que a convidemos para sentar e contar suas histórias. Pode cantar Julie!

Joni Mitchell - Blue (1971)



Sabe quando a gente deixa a mão brincar ao vento, fazendo ondulações? A voz de Joni Mitchell faz da melodia seu vento e se diverte em tonalidades que fascinam. O folk é leve e ornamentado quase sempre no violão ou piano. Além de bonita, a voz traz letras confessionais. Essa sinceridade faz de Blue um disco imerso em uma beleza frágil. Brincando com a capa, do azul mais claro saem canções leves como California e All I Want e do pesado azul escuro aparecem canções cortantes como Blue e The Last Time I Saw Richard.